Israel Melo do Nascimento – Perito Criminal
BIOGRAFIA
Carioca, 42 anos, filho de pais nordestinos e de origem bem humilde. Meu pai, nascido no interior da Paraíba, nunca entrou numa sala de aula e aprendeu a ler e a escrever com minha mãe, que nasceu no interior do Ceará e cursou até o 4º ano do ensino fundamental. Filho mais novo de três irmãos, me vi sem nenhuma referência para pautar minhas escolhas quando atingi a maior idade, visto que meus irmãos pararam no tempo por circunstâncias da vida. Assim, cada escolha e cada tropeço me fizeram lutar e chegar onde estou. Sou grato por tudo o que aprendi com minha família e por tudo que tive que aprender sozinho. Mas uma coisa não posso negar: fui criado com muita educação e respeito. Obrigado familia.
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA:
Aos 17 anos fui aprovado no meu primeiro concurso público, no cargo de soldado especialista da Aeronáutica. Como disse na Bio, meus pais eram muito humildes e não puderam me orientar na área profissional. Então, ao ingressar na FAB e aprender como era a trajetória para o meu cargo, percebi que não seria aquilo que eu gostaria de fazer. Não como soldado. Mas naquela altura do campeonato eu já não teria mais como me preparar e alçar uma carreira militar como oficial. Então percebi que eu teria que definir o que eu faria profissionalmente. Foi quando resolvi entrar na faculdade de Engenharia Civil, em 1999.
Meu pai era empreiteiro, sabia tudo de obras na pratica. Eu, que sempre acompanhava ele quando pequeno, peguei gosto e resolvi que essa seria minha profissão. Meu pai ficou em extase. Afinal era o sonho dele ver um filho fazendo faculdade, ainda mais na área em que ele trabalhou desde muito novo, quando veio do interior da Paraíba pra tentar a vida. Eu saí da FAB e passei a trabalhar com ele durante o dia e fazia a faculdade a noite.
Em 2000 eu deixei de trabalhar com meu pai para começar um estágio, na área de análise de riscos de engenharia da Bradesco Seguros. Mas no final desse ano, 2000, minha faculdade (Universidade Castelo Branco) decidiu encerrar o curso de engenharia, porque não estavam formando novas turmas. Coincidentemente, num golpe do destino, na mesma época meus pais perderam tudo o que tinham conquistado por não terem conseguido administrar corretamente as finanças e acabamos voltando a morar bem mal, num barraquinho bem humilde mesmo, que chegava a entrar lama pela janela quando chovia.
Sem dinheiro pra continuar a faculdade e sem saber o que fazer, resolvi ouvir um conselho do meu coordenador, que me orientou a tentar uma transferência para o CEFET, para o curso de Engenharia Mecânica (porque lá não tem Eng. Civil). E assim eu fiz. Dei entrar no processo de transferência e, como eu tinha boas notas nos 4 períodos que eu fiz, sem nenhuma reprovação, fui aceito no CEFET no início de 2001.
Sem dinheiro para pagar a passagem, dependia da boa vontade dos motoristas dos ônibus para poder ir assistir aula, uma vez que o uniforme do CEFET era um jaleco azul, com a logo bordada no bolso e os motoristas diziam que aquilo não era uniforme. Por isso alguns não me deixavam entrar.
Foi quando eu soube que estava aberto o período de inscrição para o concurso público para o cargo de Inspetor de Polícia Civil. Pedi dinheiro emprestado e me inscrevi. Da mesma forma, consegui comprar uma apostila de um curso preparatório.
Sem muita opção, passava horas e horas deitado na cama estudando a apostila. Lendo e relendo.
Fiz a prova e fui aprovado, mas não classificado dentro do número de vagas. Prestei as demais etapas (teste físico, psicotécnico e exame médico), pois o edital previa que os aprovados em até 3 vezes o número de vagas seriam convocados para essas etapas. Mas na hora de iniciar o curso de formação na ACADEPOL, só chamaram os classificados dentro do número de vagas.
Dei continuidade ao curso de Engenharia Mecânica no CEFET, mesmo sem ser o que eu queria fazer, mas era o que eu podia fazer.
Então consegui um estágio em uma multinacional francesa, que era a responsável pela manutenção de grandes empreendimentos, como o grupo Multiplan, por exemplo. Então eu comecei a poder pagar a passagem para não perder mais aulas. Estudava de manhã no CEFET e ia para o Shopping Tijuca, onde era a minha base de trabalho.
Após pouco tempo de estágio eu recebi uma convocação para o curso de formação profissional da Polícia Civil. Meu coração quase parou, porque eu não sabia se eu devia ficar na empresa, com grandes possibilidades de ascensão profissional, ou se iria para a carreira pública, onde teria estabilidade.
Bem, depois de passar por tanta dificuldade, minha escolha foi deixar o estagio e fui para a ACADEPOL, fazer o curso de formação. Na mesma época, tranquei minha matrícula no CEFET, pois eu já sabia que não era aquilo que eu queira fazer na minha vida profissional.
Terminado o curso de formação profissional – CFP, lá estava eu, ansioso para começar a trabalhar. Mas o governador não chamava nunca para a nomeação e posse. Mais uma vez, ali estava eu… sem dinheiro… sem trabalho… sem saber o que fazer. Até que eu decidi que tinha que fazer alguma coisa e comprei uma moto usada, de um vizinho, sem dinheiro. Me comprometi a pagar aos poucos. Comecei a procurar emprego de entregador de pizzaria, restaurantes, etc. e nada.
Até que chegou a hora e em 16 de junho de 2003 eu fui empossado e nomeado, começando a minha história na Policia Civil do Rio de Janeiro, aos 24 anos. Imediatamente eu fui até a Universidade Gama Filho e me inscrevi para dar continuidade ao meu curso de Engenharia Civil. Novamente eu vi o brilho no olhar do meu pai.
Eu estudava muito, tirava excelentes notas, fui monitor de várias disciplinas. Minha diretora e o reitor adoravam meu desempenho e me orientaram a fazer um mestrado após a conclusão da graduação. Eu era aprovado em todas as matérias que fazia e tinha previsão de me formar em 2005. Mas… no final de 2004 meu pai faleceu, sem ter me visto realizar nosso sonho.
Como previsto, me formei em 2005 e fui aprovado no curso de Mestrado em Estruturas, da COPPE/UFRJ. Nessa época eu trabalhava em plantão de delegacia, cursava o mestrado e comecei a trabalhar fazendo obras. Até que eu vi que não queria seguir a carreira acadêmica e no final do ano de 2005, tranquei minha matrícula no mestrado.
Segui fazendo obras e trabalhando na polícia, até que em 2012 resolvi fazer um curso de especialização, uma Pós-graduação em Engenharia Civil, na Estácio de Sá. E foi nessa época que eu soube que estava aberto o período de inscrição para o concurso público para Perito Criminal da Policial Civil do Rio de Janeiro, e eu me inscrevi.
Eram apenas 8 vagas para Engenheiro Civil. Uma relação candidato vaga de 291/1. Mas eu tinha certeza que uma vaga seria minha. Fiz a prova e fui aprovado em 5º lugar.
Me lembro como se fosse hoje o momento em que eu vi o resultado com a classificação. Minha esposa, que também é policial civil e trabalhava na mesma delegacia que eu, estava na sala ao lado da minha. Chamei ela e não consegui nem falar. Só apontei para a tela do computador. Começamos a chorar… foi muito emocionante.
Passadas as demais etapas do concurso, lá fui eu novamente para a ACADEPOL, mais de 10 anos depois, tendo todas as instruções do curso de formação. Foi demais!!!!!!
Após a formatura, fui lotado no setor de Pericias de Engenharia, onde fiquei de 2014 até o início de 2019, quando então fui convidado para assumir o setor de engenharia da Secretaria de Policia Civil. Setor responsável por todas as obras, manutenções, equipamentos e etc.
Fiquei a frente desse serviço até o final de 2020, quando decidi voltar à atividade pericial, por questões pessoais e de saúde, estando, desde então, de volta no Serviço de Perícias de Engenharia.
APERFEIÇOAMENTO:
Na área de perícias, faço cursos internos e em outras instituições, conforme a disponibilidade.
Durante o período em que estive a frente do Serviço de Engenharia da SEPOL, participei de cursos e seminários, muitos deles com a CON. Foram momentos maravilhosos.
MENSAGEM:
Acho que todos temos histórias de superação e de dificuldades. Todas as histórias são importantes. Não há uma melhor que a outra. São somente as histórias de cada um. E todas muito importantes.
Todos sabemos que lidamos com dificuldades enormes durante o desempenho de nossos cargos públicos e que muitas vezes não somos valorizados pela sociedade em geral. Mas o fato é que temos que buscar fazer sempre o melhor, para estarmos bem com a gente mesmo e assim poder prestar um serviço público de qualidade.
Quando o desânimo chegar, lembremos dos obstáculos que tivemos que superar para chegar até onde estamos. Muitos querem ter nossas medalhas, mas poucos querem ter nossas cicatrizes.